23 de jun. de 2010

MALDITO RALO




E lá vinha ela, pisando em ovos como dizem por ai. Saia preta, meia calça preta com rendas bordadas, camisa branca, terno preto, óculos escuros, guarda-chuvas xadrez, cabelos pretos lisos e mais leves que o ar. Ao olhá-la a uns cinquenta metros, senti aquela coisa boa que no primário se chamava paixão platônica, e nos deixava mais bobos do que éramos. Agradeci a meus olhos por terem focado a leveza em pessoa e não tinha dúvidas, era linda e me atraiu. Brilhava em meio a um turbilhão de pessoas, ruídos e cheiros e apenas uma coisa me deixou receoso; seu nariz, não pela curvatura, pois era mais um detalhe impecável de sua forma, mas sim pelo ângulo que apontava, e no momento parecia admirar a Torre Eiffel.
Como nunca estive em Paris; observava seus movimentos enquanto caminhava tranquilamente de baixo de uma chuva fina no calçadão de Pelotas, que em dias de chuva escoa uma água com forte cheiro a excremento de pomba, onde milhares de pessoas transitam por dia, compram, vendem, flertam, trabalham, roubam, pedem, enganam, prometem, se encontram, ou apenas caminham. Andei alguns metros na diagonal, mudei minha rota e deixei de lado meu receio, para cruzar bem perto e sentir o perfume e a certeza de não estar enganado. Estava chegando o momento, e a ansiedade tomou conta subitamente de meus passos e quando hesitei o olhar com a inocência de passar por discreto, antes de fita-la pela última vez, seu salto quinze encontrou o vão entre as grades de um pequeno ralo, a alça que abraçava seu delicado pé arrebentou, a Torre Eiffel sumiu de seu horizonte e a minha oportunidade surgiu. Combinando a fragilidade do momento e uma voz calma e sincera senti que aquela poderia ser a única oportunidade e então perguntei:
- Está tudo bem?
- Sim está tudo ótimo, tu não estas vendo.
- Tu tens certeza? Não quer ajuda? Não se machuco?
- Já disse que está tudo ótimo, pombas!!!!
Com um tom nada apropriado para uma mulher do porte intelectual que aparentava, conseguiu calar a próxima frase que havia preparado, fazendo o único homem que em meio a chuva parou para ajuda-lá, seguir em frente lamentando o ocorrido. Isso mesmo, não tive vontade de zombar da situação, pois fiquei triste em descobrir que a 50 metros errei em pensar que aquela poderia ser uma boa companhia.
Maldito salto fino, maldito passo apressado, maldito nariz, maldita Torre Eiffel, maldita índole, maldita mania de achar que a boa aparência compensa o maldito ralo que existente por dentro da falsa beleza, maldito engano acreditar na auto-suficiência e não saber o significado de gentileza, simplicidade, sinceridade e decência.

Felipe Campal

15 de jun. de 2010

A CAMISA AZUL DA SELEÇÃO



Este ano resolvi assistir futebol, claro é copa do mundo, e no fundo é melhor que a programação normal da Rede Globo, mas, além disso, resolvi torcer. Comprei uma camiseta, mandei botar número e nome atrás, decorei todos os gritos e frases memoráveis da torcida, os horários dos jogos e até em um bolão arrisquei.
Nunca fui bom de bola, era goleiro e dos bons, mas isso não significa ser craque, me aposentei aos 15 anos depois de várias lesões não muito sérias, mas deixei o futebol de lado não pela falta de habilidade nos pés e sim pela consciência de saber disso. Inventei que podia ser artista, saída boa para quem não gosta de fazer esforço físico, mas com o tempo fui descobrindo algumas habilidades manuais, mas essas não vêm ao caso, porque hoje o assunto é bola na rede.
Exatamente às 15h e 30min, cheguei empolgado na casa de um amigo para ver a estreia da seleção, já que o adversário era difícil e ganhar quando se entrou perdendo é muito melhor. Mas nada de cerveja, só pipoca, na torcida mais dois simpatizantes nada empolgados, assistiram ao um empate sem gols e sem a mínima graça. Foi demais para um torcedor brasileiro com 3 litros de sangue Uruguaio que não gosta de futebol e inventou de torcer pela sua celeste e ainda gastou uma nota em uma camiseta, achar graça em uma partida que resultou num zero a zero e ainda mais se embuchou de pipoca.
Mas no fundo; a ideia de torcer pelo país onde parte boa da minha família se encontra, a qual influenciou em algumas de minhas características; é um motivo a mais para nestes meses de frio sentir uma alegria extra, caso La Celeste ganhe uma. Torcer pelo Brasil, claro que sim, mas não tem a mesma graça, por que a seleção não surpreende ninguém positivamente a um bom tempo, já que sempre ganha e a surpresa que nos dá é quando perde.
Ahhhh e caso passe da primeira fase, nada de pipoca, Parrillada e Patrícia por minha conta.

Felipe Campal